quarta-feira, 20 de julho de 2011

NENHUMA MÃE É PERFEITA...

Muito se ouve sobre as mães que trabalham fora e ficam o dia inteiro longe de seus filhos. Fala-se em culpa, saudade e frustrações. Tive a oportunidade recente de voltar a trabalhar fora em período integral por um mês e sei bem o que é isso. Neste meio tempo, para completar, a MC ficou doentinha e eu queria mesmo era sair correndo daquele escritório para ficar coladinha na minha pequena... E eu lastimava cada minuto que ficava longe dela, e queria afofar muito quando chegava em casa, mas às vezes estava tão cansada que nem conseguia aproveitar tanto quanto tinha vontade... E vivi um misto de realizações, frustrações, saudade, culpa e, também, uma sensação de liberdade, independência, aqueles minutos de silêncio de quando se está sozinha no carro, indo para o trabalho... Tá certo que meu coração não estava ali, mas o silêncio era muito bom... eu podia até pensar...
Por várias circunstâncias (que merecem outro post e também envolvem maternidade, paternidade e temas afins), deixei o trabalho depois de um mês e voltei à vida de mãe full time... Aí fiquei muito feliz e também um pouco triste, mas o fato é que essa experiência me habilita a falar sobre os dois lados da moeda...
Ser mãe full time, como sou agora, implica em estar com seu filho o dia inteiro, de manhã à noite, atendendo suas necessidades físicas e afetivas. E não pensem que é mais fácil do que fechar a porta e sair para trabalhar, deixando o bebê com a babá ou na escolhinha... Essa rotina é cansativa e desgastante, não sobra tempo para nada... Às vezes eu só quero pensar um pouquinho em alguma coisa que não seja uma nova brincadeira para os próximos 20 minutos ou onde é que está escondido (literalmente) o bico ou ainda em qual o DVD dos Backyardigans está o filme dos Piratas (sim, minha filha assiste televisão e isso também é assunto para um outro post)... Eu amo minha filha mais do que tudo nesta vida, mas às vezes eu só quero ficar sozinha um minutinho, nem que seja para fazer xixi ou arrumar a cama mais rápido (sem uma pitoca esvaziando os criados-mudos com a velocidade da luz hehehe).
E aqui, mães que trabalham e mães que se dedicam a cuidar os filhos em tempo integral se culpam... Umas por ficarem longe para poder trabalhar e outras por que se pegam querendo um tempo longe daquele serzinho amado... E somos menos mães ou mães piores por que precisamos ou queremos (e também precisamos!) nos afastar um pouco de nossos filhos?
Juro que me sentia culpada e mal agradecida e péssima mãe por, tendo a oportunidade de acompanhar integralmente os dois primeiros anos da vida da MC, ficar sonhando em tomar um capuccino e ler uma revista qualquer em silêncio...
Aí que hoje eu li a entrevista da filósofa francesa Elisabeth Badinter, publicada na Veja de 20/07/2011, e me senti muito melhor, por isso resolvi compartilhar alguns trechos... Para mães que trabalham fora e para mães que cuidam de seu bebê o tempo inteiro:

"Tento desconstruir um mito que vem se consolidando nas sociedades modernas com a participação de todos esses grupos - o da mãe perfeita. Movidos por ideologias as mais variadas, feministas, ecologistas e intelectuais que eu combato tratam de sedimentar no caldo cultural do século XXI a idéia de que, uma vez mãe, a mulher deve enquadrar-se em um modelo único, obedecendo a dogmas que, de tão atrasados, sepultam os avanços mais básicos trazidos pela industrialização. Estou falando de pessoas que torcem o nariz para as cesarianas e chegam a fazer apologias do parto sem anestesia, sob o argumento de que há beleza no sacrifício feito em nome dos filhos já no primeiro ato. Demonizam o uso da mamadeira e até o da fralda descartável. Para essa gente, as mães nunca devem estar indispostas para suprir as necessidades de sua prole. Essa pressão só causa frsutração e culpa nas mulheres."

"Mães são naturalmente imperfeitas, como é inerente à própria natureza humana".

"As mães que põem os interesses e as vontades dos filhos sempre acima
dos seus são vítimas desse equívoco historicamente determinado [o mito do amor materno instintivo]. Essas mães acreditam que a dedicação incondicional pode ajudar a produzir uma criança perfeita, resultado dos incentivos constantes."

"Chama muito minha atenção ver mulheres com expressão vazia enquanto cuidam dos seus filhos nas praças e jardins. Fico me perguntando: qual é o problema de reconhecer que não querem passar o dia inteiro com seus filhos? Evidentemente, elas acham que isso significaria amá-los menos."

"O ponto ideal é aquele que as mulheres mantenham a equidistância entre os próprios desejos e os de seus filhos. Em outras palavras, que alcancem um ponto de equilíbrio em que não fiquem excessivamente próximas a ponto de roubar o espaço necessário ao desenvolvimento das crianças nem tão distantes que pareçam ausentes. As mães são, afinal, referência afetiva e intelectual imprescindível aos filhos."

Eu sinto que esta entrevista vai dar o que falar... Só para esclarecer meus pontos de vista sobre aqueles que serão os pontos cruciais de todos os blogs maternos nesta semana: sou superhiper a favor do parto normal, lutei muito pelo meu, mas não consegui... amamentei exclusivamente até os 5 meses e meio e depois até a MC completar 1 ano e 2 meses... minha filha assite TV em períodos diários pré-determinados e em alguns outros momentos eventuais em que o sossego se faz necessário... procuro alimentá-la da forma mais saudável possível, com alimentos feitos em casa... eu brinco, corro, danço e faço barraquinhas na sala... só acho que ninguém é perfeito e que toda mãe precisa de um tempinho para si - para trabalhar, fazer a unha, tomar capuccino, blogar, lavar a louça ou o que quer que seja... sem culpa e sem drama, ok?

P.S.: às vezes a MC enjoa um pouquinho de mim e quer brincar só com o papai quando ele chega em casa hahahahaha

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